segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A tristeza da alegria e a alegria da tristeza



Estão errados aqueles que pensam que a folia de Momo é só alegria barata e superficial. Não, senhor(a)! Para o carioca, carnaval é coisa séria e carrega consigo os paradoxos da vida também. O folião legítimo, reparem bem caríssimos(as) passageiros(as), oscila entre aquele(a) que é feliz de tão triste e o que é triste de tão feliz, muito embora a diferença entre um e outro prato da balança não seja lá muito clara. Daí os muitos sambas e marchinhas que trazem como motivo o revanchismo, a resignação ou a espera do (re)encontro com os trilhos certos da própria vida.

Tão (in)esperados quanto fugidios, os (des)encontros amorosos, por exemplo, tiveram lugar garantido carnavais entre as décadas de 1920 e 1960, mesmo que fosse em pé, no estribo no bonde, lugar que, por sempre caber mais um, é comparado ao coração de uma pequena ou de um rapazola sem coração algum na marchinha "Endereço Errado", de Paulo de Carvalho, gravada por Carmem Miranda para o carnaval de 1938:

Amor eu sei que você não tem não
Mas isso não faz mal algum
Seu coraçãozinho é um estribo de bonde
que tem sempre lugar p'rá um
(https://www.youtube.com/watch?v=ia8K7MNoNjU)

Tem também a "Pára o bonde", de Antônio de Almeida, sucesso na voz de Vassourinha, no carnaval de 1942. Aqui, vemos um distraído sujeito que pega o bonde errado e, assim mesmo, vai até o fim da linha para pensar nas próprias mágoas:

Quando eu pego o bonde errado
Vou até o fim da linha
E pra disfarçar as mágoas
Vou tocando a campainha
Outro dia eu distraí
Passeando com meu bem
Peguei o Estrada de Ferro
Pensando que fosse trem

Já o belíssimo samba "E o 56 não veio...", de Wilson Batista, gravado em 1944, narra a tristeza do camarada que espera uma hora (!) a amada no ponto do bonde apelidado justamente - vejam vocês! - de Alegria, linha de número 56 que partia da praça XV em direção a Rua Licínio Cardoso (São Francisco Xavier), passando pela Rua da Alegria (Caju). Dado o traçado do bonde, é de se imaginar que a pequena, se era humilde, de boba não tinha nada. Na certa, preferiu os mistérios e os flertes da cidade ao convencional namorinho no portão:

Eu ontem esperei ás 7 em ponto
Ainda dei uma hora de desconto
Os ponteiros do relógio pareciam me dizer
"Vai embora meu amigo ela não vai aparecer"
Será que ela não veio porque se zangou?
Ou o bonde Alegria descarrilou?
Houve qualquer coisa de anormal
Ela sempre foi pra mim tão pontual
Fui ao chefe da Light, perguntei ao inspetor
"O que houve com o 56? Esse bonde sempre trouxe o meu amor".




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