segunda-feira, 16 de março de 2015

Rubem Braga estava certo



Fui pego de surpresa quando liguei a TV em pleno domingo, dia do Senhor, e pude ver com meus próprios olhos a profecia se cumprir. Num primeiro momento, confesso que não consegui acreditar no que via. Mas logo lembrei do ignorado presságio do cronista - "Ai de ti, Copacabana!" - e constatei que o fim havia chegado: o fogo não veio, é verdade, mas a antiga Sacopenapã fora, enfim, invadida por um mar furioso e sedento de cada um de seus metros quadrados muito bem especulados.

Enquanto eu, da minha distante e pacata Praça Seca, assistia àquilo tudo e me sentia um peixe fora d'água, em plena Avenida Atlântica cardumes de toda espécie faziam a festa, mormente os "Verde-Amarelo-CBF", recém-saídos das varandas marítimas, muito embora no fundo, no fundo, o ritmo da maré fosse ditado mesmo pelos tubarões. E todos dançavam sem jeito e sem graça, mexendo as barbatanas conforme a música.

Só senti um alívio no peito e percebi que havia me ancorado na ilha certa quando Iemanjá, inquirida ao vivo por um repórter da Globo, disse com muita elegância que não tinha absolutamente nada a ver com aquilo. Que não metessem o nome dela naquela história. E que, muito pelo contrário, se dependesse dela a destruição de Copacabana aconteceria de cima pra baixo, ou melhor, morro abaixo.

De todo modo, foi triste constatar que Rubem Braga estava certo em suas tortas linhas. Pobre Copacabana! Felizmente que o apocalipse durou só um dia. Mas o pesadelo, parece, durará ainda um tanto, prato cheio para os psicanalistas do bairro, um dos quais já me disse que o grande desafio de seus pares vai ser descobrir em que momento seus moradores perderam a autoestima e passaram a imitar os da Avenida Paulista.

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