segunda-feira, 9 de março de 2015

Olavo Bilac, o primeiro “ruim de roda” do Rio de Janeiro.*


           
Não havia regras de trânsito estabelecidas nem ruas apropriadas para o trânsito automotivo quando o líder abolicionista José do Patrocínio (1853-1905) adquiriu, em 1897, o primeiro automóvel da cidade, um Gardner-Serpollet a vapor de 8 Hp. O automóvel era uma novidade, havendo pouquíssimos exemplares no país, e, por menor que fosse o trajeto, ele dependida basicamente do bom senso e da habilidade do próprio condutor, além, é claro, da sorte de que porventura estivesse ao seu lado como passageiro. 

Ainda no mesmo ano, cedendo aos apelos do amigo Olavo Bilac (1865-1918), um das figuras mais destacadas da poesia parnasiana no Brasil, José do Patrocínio resolveu emprestar seu carro para que o poeta pudesse experimentar a sensação de dirigir, mesmo não sendo habilitado. Mal sabiam eles que, por esse acaso, ficariam marcados na história como os protagonistas do primeiro acidente de automóvel de que se tem notícia na cidade. 

Como o modelo seguia padrões ingleses, Bilac, na época com trinta e dois anos, sentou-se a direita, no banco do motorista, e Patrocínio à esquerda, como carona. Depois de alguns quilômetros, o poeta perdeu o controle do veículo e, à velocidade de inacreditáveis 3 Km/h, acabou atingindo em cheio uma árvore na Estrada Velha da Tijuca. Saíram ilesos. Já o carro não teve a mesma sorte: partiu o tronco e caiu no barranco. Perda total. Desolado, mas poupando o amigo, Patrocínio teria praguejado aos céus e colocado a culpa nas péssimas ruas cariocas, verdadeiros obstáculos ao progresso da cidade.




*Texto originalmente publicado como Box no artigo de minha autoria intitulado "Muito antes dos 20 centavos". Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 8. nº 96. setembro 2013. p.46

Nenhum comentário:

Postar um comentário