Se ao longo do
ano os bondes já eram os principais parceiros do carioca, durante o carnaval então, nem se fala! Sua função era dupla: por um lado, eram eles que levavam a moçada
para a folia que, na verdade, já começava mesmo em seu interior, infernizando a
vida do condutor e do motorneiro; por outro, e não menos importante, serviam de
mote para as próprias marchinhas e sambas que animavam a festa de Momo.
Em ambos os
casos, a figura do condutor era de longe a mais esculhambada, e por um motivo muito
simples: o carnaval, parênteses da vida cotidiana, era o momento propício
para tirar onda com a cara daquele que durante o ano inteiro cobrava o dinheiro da passagem, cujo preço é discutível não é de hoje.
Humilde funcionário
da Light, empresa que detinha o monopólio dos bondes elétricos, o
"conduta", pobre coitado, era visto com desconfiança e muitas vezes
foi acusado de cobrar mais do que devia, como nesse samba de A. Neto, Aldacir
Louro e Rubens Fausto, intitulado O Conduta
do Taioba, que animou o carnaval de 1955:
O conduta deste taioba,
Diz que é honesto quando cobra,
Mas toda vez que faz tim...
tim...
Logo vai dizendo, dois pra Light
e um pra mim.
Ele anda pendurado o ano inteiro.
É muito vivo e não tem nada de
otário,
Fazendo tim... tim...
Fazendo tim... tim...
Este conduta acaba milionário.
Também
brincalhona, porém muito mais desafiadora, era a marcha Não pago o bonde, de J. Cascata e Leonel Azevedo, sucesso no
carnaval de 1938 na voz de Odete Amaral. Nela, o esperto passageiro aproveita a
ocasião da festa para transformar malandramente o condutor em
"camarada", e a empresa responsável pelo transporte, no verdadeiro e acertado alvo do
protesto.
Fica a dica
para o carnaval desse ano!
Não pago o
bonde, iaiá
Não pago o
bonde, ioiô
Não pago o
bonde
Que eu
conheço o condutor
Quando estou
na brincadeira
Não pago o
bonde
Nem que seja
"por favor"
Não pago o bonde
Porque não
posso pagar
O meu é
muito pouco
E não chega
pra gastar
Moro na rua
das casas
Daquele lado
de lá
Tem uma
porta e uma janela
Mande a Light me cobrar!
" O bonde São Januário / leva mais um sócio otário / só eu não vou trabalhar..." (Wilson Batista)
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