segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O dia em que Roma invadiu o subúrbio

"Vamos à História dos subúrbios". A frase machadiana encerra o Dom Casmurro e inicia a nossa viagem de hoje.

O ano era 1938. Naquele tempo, ninguém mais duvidava que o caldo que há muito vinha cozinhando o hemisfério norte estava prestes a entornar pra cima do mundo inteiro. Articuladas, as forças do Eixo (Berlim-Roma-Tóquio) avançavam e ciscavam no terreiro alheio sem pestanejar, dando demonstração de seu poderio militar por onde quer que passassem.

No Brasil, as notícias sobre o xabu euro-asiático chegavam a conta-gotas, pelos jornais ou pelas ondas do rádio, até que, no dia 26 de janeiro, a Esquadrilha Italiana dos Ratos Verdes cruzou o céu carioca e pousou às 18:56 na base aérea do Campo dos Afonsos,  Zona Oeste do Rio de janeiro. O subúrbio, vejam vocês, foi a nossa primeira testemunha de que a guerra se aproximava, literalmente!

A desculpa para viagem, muito esfarrapada por sinal, era um estudo de viabilidade para uma nova rota comercial entre  a Itália e o Brasil. Mas a missão, pelo menos a princípio, era mesmo de paz, pois Vargas ainda flertava com o país que dali a alguns anos seria nosso inimigo de muitas batalhas.

Vindos diretamente de Roma, com uma pequena escala em Dacar, capital do Senegal, os Ratos Verdes, que tinham esse nome por causa dos três ratinhos de pé que estampavam as latarias dos aviões, quebraram o recorde de velocidade na travessia do Atlântico Sul, o que embasbacou muita gente boa e empolgou muito patriota abobalhado.

A esquadrilha era composta por três aviões, dos quais apenas dois chegaram ao seu destino final - um ficara em Natal para reabastecer. Entre os pilotos, estava um jovem tenente chamado Bruno Mussolini, segundo filho do Duce, que contava com apenas vinte anos de idade.

Mussolini, o pai, deve ter ficado orgulhoso. Já o filho foi recebido aqui com todas as honras e protocolos oficiais. Mas, como não era bobo nem nada, tocou pra Copacabana na mesma hora, tão logo acabaram as sessões de fotos para os jornais. No caminho, fora alguns curiosos, ninguém deu muita bola pra ele. Até porque, o carnaval já se aproximava, e na folia todo mundo é filho do rei.        

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